Meu corpo fez nó com o passado.
Fechei os olhos — não havia ninguém.
Medo virou ferro nos meus pulsos,
mas eu aprendi a não pedir licença pra dor.
Você plantou monstros no quintal,
regou com inveja, colheu silêncio.
Os lábios que sorriam eram lâminas;
o hálito, um mapa de ruínas.
Cresci com as tuas humilhações,
aprendi a cortar o que não me cabe.
Beija inimigos, veste bajuladores,
espera aplauso; eu não aplaudo mais.
Minha infância ficou com rachaduras,
tuas mentiras — tijolos soltos.
Tu quiseste rei; criou só um trono de vidro.
Eu peguei os cacos, fiz outro caminho.
Não sou tua obra mal feita:
sou o incêndio que não admite sombra.
Não quero teu perdão, quero distância.
Não quero teu aplauso, quero paz.
Você é covarde com capa de rei;
eu sou quem aprendeu a sair da fumaça.
Não desejo teu mal, mas quero espaço —
um mundo onde teu veneno não respire perto de mim.
Pai não é quem quebra;
é quem colhe o que plantou: saudade ou ruína.
Você plantou ruína —
eu plantei escape.
Fica longe.
Deixa eu juntar meus pedaços.
Que a tua coroa caia —
e que eu, finalmente, ache o meu rumo.
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